quarta-feira, junho 25, 2014

Augustus Nicodemus Lopes

A doutrina das últimas coisas - escatologia

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Assista ao mais recente programa Academia em Debate, sobre escatologia: o fim do mundo, a volta de Cristo, o milênio, o arrebatamento e as diferentes posições entre os evangélicos sobre o assunto



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sábado, junho 21, 2014

Augustus Nicodemus Lopes

Sobre Festas Juninas

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A festa celebra o nascimento de João Batista, que virou um dos santos católicos. É realizada no dia 24 de junho com base no fato que João Batista havia nascido seis meses antes de Jesus (Lc 1:26,36). Se o nascimento de Jesus (Natal) é celebrado em 25 de dezembro, então o de João Batista é celebrado seis meses antes, em 24 de junho. É claro que estas datas são convenções, apenas, pois não sabemos ao certo a data do nascimento do Senhor.

A origem das fogueiras nas celebrações deste dia é obscura. Parece que vem do costume pagão de adorar seus deuses com fogueiras. Os druidas britânicos, segundo consta, adoravam Baal com fogos de artifício. Depois a Igreja Católica inventou a história que Isabel acendeu uma fogueira para avisar Maria que João tinha nascido. Outra lenda é que na comemoração deste dia, fogueiras espontâneas surgiram no alto dos montes.

Já a quadrilha tem origem francesa, sendo uma dança da elite daquele país, que só prosperou no Brasil rural. Daí a ligação com as roupas caipiras. Por motivos obscuros acabou fazendo parte das festividades de São João.

Fazem parte ainda das celebrações no Brasil (é bom lembrar que estas festas também são celebradas em alguns países da Europa) as comidas de milho – provavelmente associadas com a quadrilha que vem do interior – as famosas balas de “Cosme e Damião.” São realizadas missas e procissões, muitas rezas e pedidos feitos a São João. As comidas são oferecidas a ele.

Se estas festividades tivessem somente um caráter religioso e fossem celebradas dentro das igrejas como se fossem parte das atividades dos católicos, não haveria qualquer dúvida quanto à pergunta, “pode um evangélico participar?” Acontece que as festas juninas foram absorvidas em grande parte pela cultura brasileira de maneira que em muitos lugares já perdeu o caráter de festa religiosa. Para muitos, é apenas uma festa onde acendem-se fogueiras, come-se milho preparado de diferentes maneiras e soltam-se fogos de artifício, sem menção do santo, e sem orações ou rezas feitas a ele.

Paulo enfrentou um caso semelhante na igreja de Corinto. Havia festivais pagãos oferecidos aos deuses nos templos da cidade. Eram os crentes livres para participar e comer carne que havia sido oferecida aos ídolos? A resposta de Paulo foi tríplice:
  • O crente não deveria ir ao templo pagão para estas festas e ali comer carne, pois isto configuraria culto e portanto, idolatria (1Cor 10:19-23). Na mesma linha, eu creio que os crentes não devem ir às igrejas católicas ou a qualquer outro lugar onde haverá oração, rezas, missas e invocação do São João, pois isto implicaria em culto idólatra e falso.
  • Paulo disse ainda que o crente poderia aceitar o convite de um amigo pagão e comer carne na casa dele, mesmo com o risco de que esta carne tivesse sido oferecida aos ídolos. Se, todavia, houvesse alguém presente ali que se escandalizasse, o crente não deveria comer (1Cor 10:27-31). Fazendo uma aplicação para nosso caso, se convidado para ir a casa de um amigo católico neste dia para comer milho, etc., ele poderia ir, desde que não houvesse atos religiosos e desde que ninguém ali ficasse escandalizado.
  • E por fim, Paulo diz que o crente pode comer de tudo que se vende no mercado sem perguntar nada. A exceção é causar escândalo (1Cor 10:25-26). Aplicando para nosso caso, não vejo problema em o crente comer milho, pamonha, mungunzá, etc. neste dia e estar presente em festas juninas onde não há qualquer vínculo religioso, desde que não vá provocar escândalos e controvérsias. Se Paulo permitiu que os crentes comessem carne que possivelmente vieram dos templos pagãos para os açougues, desde que não fosse em ambiente de culto, creio que podemos fazer o mesmo, ressalvado o amor que nos levaria à abstinência em favor dos que se escandalizariam.
Segue abaixo parte de um livro meu onde abordo com mais detalhes o que Paulo ensinou aos coríntios em casos envolvendo a liberdade cristã.

O CULTO ESPIRITUAL, Augustus Nicodemus Lopes. Cultura Cristã, 2012.

“A situação de Corinto era diferente. O problema lá não era o mesmo tratado no concílio de Jerusalém. O problema não era os escrúpulos de judeus cristãos ofendidos pela atitude liberal de crentes gentios quanto à comida oferecida aos ídolos. Portanto, a solução de Jerusalém não servia para Corinto. É provavelmente por esse motivo que o apóstolo não invoca o decreto de Jerusalém.[1] Antes, procura responder às questões que preocupavam os coríntios de acordo com o princípio fundamental de que só há um Deus vivo e verdadeiro, o qual fez todas as coisas; que o ídolo nada é nesse mundo; e que fora do ambiente do culto pagão, somos livres para comer até mesmo coisas que ali foram sacrificadas.

1. A primeira pergunta dos coríntios havia sido: era lícito participar de um festival religioso num templo pagão e ali comer a carne dos animais sacrificados aos deuses? Não, responde Paulo. Isso significaria participar diretamente no culto aos demônios onde o animal foi sacrificado (1 Co 10.16-24). Paulo havia dito que os deuses dos pagãos eram imaginários (1 Co 10.19). Por outro lado, ele afirma que aquilo que é sacrificado nos altares pagãos é oferecido, na verdade, aos demônios e não a Deus (10.20). Paulo não está dizendo que os gentios conscientemente ofereciam seus sacrifícios aos demônios. Obviamente, eles pensavam que estavam servindo aos deuses, e nunca a espíritos malignos e impuros. Entretanto, ao fim das contas, seu culto era culto aos demônios. [2] Paulo está aqui refletindo o ensino bíblico do Antigo Testamento quanto ao culto dos gentios:
 Sacrifícios ofereceram aos demônios, não a Deus... (Dt 32.17)
...pois imolaram seus filhos e suas filhas aos demônios (Sl 106.37).
 O princípio fundamental é que o homem não regenerado, ao quebrar as leis de Deus, mesmo não tendo a intenção de servir a Satanás, acaba obedecendo ao adversário de Deus e fazendo sua vontade. Satanás é o príncipe desse mundo. Portanto, cada pecado é um tributo em sua honra. Ao recusar-se a adorar ao único Deus verdadeiro (cf. Rm 1.18-25), o homem acaba por curvar-se diante de Satanás e de seus anjos.[3] Para Paulo, participar nos festivais pagãos acabava por ser um culto aos demônios. Por esse motivo, responde que um cristão não deveria comer carne no templo do ídolo. Isso eqüivaleria a participar da mesa dos demônios, o que provocaria ciúmes e zelo da parte de Deus (1 Co 10.21-22). Paulo deseja deixar claro para os coríntios “fortes”, que não tinham qualquer intenção de manter comunhão com os demônios, que era a atitude deles em participar nos festivais do templo que contava ao final. Era a força do ato em si que acabaria por estabelecer comunhão com os demônios.[4]

2. Era lícito comer carne comprada no mercado público? Sim, responde Paulo. Compre e coma, sem nada perguntar (1 Co 10.25). A carne já não está no ambiente de culto pagão. Não mantém nenhuma relação especial com os demônios, depois que saiu de lá. Está “limpa” e pode ser consumida.

3. Era lícito comer carne na casa de um amigo idólatra? Sim e não, responde Paulo. Sim, caso não haja, entre os convidados, algum crente “fraco” que alerte sobre a procedência da carne (1 Co 10.27). Não, quando isso ocorrer (1 Co 10.28-30).

O ponto que desejo destacar é que para o apóstolo Paulo a carne que havia sido sacrificada aos demônios no templo pagão perdia a “contaminação espiritual” depois que saia do ambiente de culto. Era carne, como qualquer outra. É verdade que ele condenou a atitude dos “fortes” que estavam comendo, no próprio templo, a carne sacrificada aos demônios. Mas isso foi porque comer a carne ali era parte do culto prestado aos demônios, assim como comer o pão e beber o vinho na Ceia é parte de nosso culto a Deus. Uma vez encerrado o culto, o pão é pão e o vinho é vinho. Aliás, continuaram a ser pão e vinho, antes, durante e depois. A mesma coisa ocorre com as carnes de animais oferecidas aos ídolos. E o que é verdade acerca da carne, é também verdade acerca de fetiches, roupas, amuletos, estátuas e objetos consagrados aos deuses pagãos. Como disse Calvino,
Alguma dúvida pode surgir se as criaturas de Deus se tornam impuras ao serem usadas pelos incrédulos em sacrifícios. Paulo nega tal conceito, porque o senhorio e possessão de toda terra permanecem nas mãos de Deus. Mas, pelo seu poder, o Senhor sustenta as coisas que tem em suas mãos, e, por causa disto, ele as santifica. Por isso, tudo que os filhos de Deus usam é limpo, visto que o tomam das mãos de Deus, e de nenhuma outra fonte.[5]


[1] Note que Paulo não teve qualquer problema em anunciar o decreto em Antioquia, o que produziu muito conforto entre os irmãos (At 15.30-31).
[2] Não somente Paulo, mas os cristãos em geral tinham esse conceito. João escreveu: “Os outros homens, aqueles que não foram mortos por esses flagelos, não se arrependeram das obras das suas mãos, deixando de adorar os demônios e os ídolos de ouro, de prata, de cobre, de pedra e de pau, que nem podem ver, nem ouvir, nem andar” (Ap 9.20).
[3] Cf. Charles Hodge, A Commentary on 1 & 2 Corinthians (Carlisle, PA: Banner of Truth, 1857; reimpressão 1978) 193.
[4] Hodge (1 & 2 Corinthians, 194) chama a nossa atenção para o fato de que o mesmo princípio se aplica hoje aos missionários que, por força da “contextualização”, acabam por participar nos festivais pagãos dos povos. Semelhantemente, os protestantes que participam da Missa católica, mesmo não tendo intenção de adorar a hóstia, acabam cometendo esse pecado, ao se curvar diante dela.
[5] João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, em Comentário à Sagrada Escritura, trad. Valter G. Martins (São Paulo: Paracletos, 1996) 320.
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sexta-feira, junho 20, 2014

Augustus Nicodemus Lopes

Agora gays podem casar na igreja presbiteriana dos Estados Unidos (PCUSA)

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No dia 19 deste mês (Junho de 2014) a Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos (PCUSA) aprovou com maioria folgada uma alteração na sua Constituição. Em vez de dizer “o casamento é entre um homem e uma mulher,” a Constituição da PCUSA agora diz “o casamento é entre duas pessoas”. Obviamente, a alteração foi feita para poder acomodar dentro da PCUSA os gays que querem casar na igreja e ter cerimônia religiosa realizada por pastores/pastoras presbiterianos.

Esse é mais um passo na direção da apostasia, desde que a PCUSA entrou pelo caminho do liberalismo teológico. Veja a notícia aqui

Antes de mais nada, preciso esclarecer que essa denominação norte-americana nada tem a ver com a Igreja Presbiteriana do Brasil. Na verdade, a IPB tem consistentemente rechaçado nas últimas décadas todas as tentativas oficiais de aproximação com PCUSA, feitas tanto das bandas de lá como das bandas de cá. É injusto colocar todos os presbiterianos no mesmo saco em que esta denominação apóstata se meteu. Ela traiu sua herança presbiteriana e o que é mais importante, traiu o Cristianismo bíblico.

Não vou dizer que fiquei estarrecido, surpreso ou chocado com a decisão tomada finalmente pela assembléia geral da PCUSA. Não estou surpreso porque já era de se esperar que tal coisa acontecesse, cedo ou tarde. Afinal, as decisões que vinham sendo tomadas por esta denominação presbiteriana em décadas recentes, não poderiam levar a outra coisa senão a decisões como tais. A decisão de aceitar casamento gay como sendo cristão é o resultado da fermentação de vários conceitos e pressupostos que ao longo do tempo foram lentamente sendo introduzidos na alma da denominação, formando irreversivelmente a sua maneira de pensar e de agir.

Tudo começou quando a PCUSA passou a tolerar que o liberalismo teológico fosse ensinado nas suas instituições teológicas, as quais são responsáveis pela formação teológica, eclesiástica e ministerial dos seus pastores. O liberalismo teológico retira toda a autoridade das Escrituras como palavra de Deus, introduz o conceito de que ela é fruto do pensamento ultrapassado de gerações antigas e que traz valores e conceitos que não podem mais ser aceitos pelo homem moderno. Assim, coloca a Bíblia debaixo da crítica cultural. O passo seguinte foi a aprovação da ordenação de mulheres cristãs ao ministério, em meados da década de 60, com base exatamente no argumento de que os textos bíblicos que impõem restrições ao exercício da autoridade eclesiástica por parte da mulher cristã eram culturalmente condicionados, e portanto impróprios para a nossa época, em que a mulher já galgou todas as posições de autoridade.

O argumento que vem sendo usado há décadas pelos defensores do homossexualismo dentro da PCUSA segue na mesma linha. Os textos bíblicos contrários ao homossexualismo são vistos como resultantes da cosmovisão cultural ultrapassada dos escritores bíblicos, refletindo os valores daquela época. Em especial, os textos de Paulo contra o homossexualismo (Romanos 1 em particular) são entendidos como condicionados pelos preconceitos da cultura antiga e pela falta de conhecimento científico, que segundo os defensores do homossexualismo hoje já demonstra que ser gay é genético, não podendo, portanto, ser mais considerado como desvio moral ou pecado. Já que a cultura moderna mais e mais aceita o homossexualismo como normal, chegando mesmo a reconhecer o casamento entre eles em alguns casos, por que a Igreja, que deveria sempre dar o primeiro exemplo em tolerância, aceitação e amor, não pode receber os homossexuais como membros comungantes e pastores da Igreja? Essa foi a argumentação que finalmente prevaleceu, pois a decisão permite que homossexuais praticantes considerem a sua escolha sexual como uma questão secundária e não como matéria de fé, sujeita à disciplina eclesiástica da denominação.

Não estou dizendo que todos os que defendem a ordenação de mulheres necessariamente são defensores da ordenação gay e do casamento de homossexuais. Tenho bons amigos que defendem um e abominam o outro. Estou apenas dizendo que, em ambos os casos, o argumento usado para sua aprovação dentro da PCUSA foi o mesmo: o que os escritores bíblicos dizem sobre estes assuntos não tem validade para os dias de hoje, e portanto, a Igreja deve se guiar por aquilo que é culturalmente aceitável, politicamente correto e que faz parte do bom senso comum.

Existe uma brava minoria dentro da PCUSA que, de longa data, tem lutado contra a introdução desses conceitos. Agora, assiste com tristeza a derrota bater à sua porta. Desde que a PCUSA aceitou o homossexualismo, mais de 10.000 igrejas já saíram dela. Esta que já foi a maior denominação presbiteriana do mundo hoje está reduzida a 1,8 milhões de membros. E este número cai mais a cada ano. 

Não devemos pensar que esse é um problema que se restringe àquela denominação americana. Os mesmos pressupostos que a levaram a tomar essa decisão já estão em operação em nosso país, a começar pelos seminários e instituições de ensino teológico que já caíram vítimas do método histórico-crítico de interpretação, do liberalismo teológico, do pragmatismo e do relativismo. O campo está sendo preparado no Brasil para que em breve evangélicos passem a considerar a homossexualidade como sendo uma questão pessoal e secundária, abrindo assim a porta para ordenação de gays e lésbicas praticantes ao ministério da Palavra e para a realização de casamento gay nas igrejas evangélicas.

Acredito que a única medida preventiva é não abrirmos mão da legitimidade e aplicabilidade dos valores e dos ensinamentos bíblicos para todas as épocas e culturas. Isto nos permitirá sempre fazer uma crítica da cultura a partir do referencial da Palavra inspirada e infalível de Deus. Foi quando a PCUSA subjugou a Bíblia à cultura que a lata de minhocas foi aberta. A Bíblia passou a ser julgada pela cultura. Vai ser difícil para liberais, neo-ortodoxos, libertinos e outros grupos no Brasil, que de maneiras diferentes colocam a cultura à frente da Bíblia, resistir à pressão. Quem viver, verá.

Mais artigos sobre o assunto aqui no blog Tempora-Mores:

http://tempora-mores.blogspot.com.br/2011/02/pcusa-prestes-se-dividir.html
http://tempora-mores.blogspot.com.br/2012/01/decepcionados-com-ordenacao-de.html
http://tempora-mores.blogspot.com.br/2006/07/denominao-americana-finalmente-aprova.html
http://tempora-mores.blogspot.com.br/2011/05/por-que-igrejas-presbiterianas-pelo.html

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segunda-feira, junho 16, 2014

Augustus Nicodemus Lopes

Qual o valor da língua grega para o estudo do Novo Testamento?

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sexta-feira, junho 06, 2014

Solano Portela

Lidando com o Caos – Que tal um pouco de história?

Vivenciamos dias de caos e desordem. Neste início de junho de 2014 temos a greve dos metroviários: a paralisação de um serviço essencial no qual greves são proibidas por lei. Mas a lei! Quem se importa com a lei? Se nem os guardiões dela se importam com as pessoas, com a massa que os elege, uma categoria vai se importar com a lei? Esses "líderes sindicais" vão ponderar que impingirão sofrimento indevido a uma multidão de pessoas prejudicadas, cansadas, mal dormidas, ou extenuadas após o trabalho sem conseguir chegar em casa? E nos mês passado, quando policiais (outro serviço público essencial) cruzaram os braços em diversos estados, deixando o povo que paga os seus salários à mercê do crime, da desordem, do caos? Sem a barreira da lei e daqueles que deveriam fazê-la valer, não existem mais limites. Os saques generalizados de Abreu e Lima, em Pernambuco, estão indelevelmente inscritos na nossa triste história, evidenciando a lamentável situação de desmando e falta de autoridade que impera no país.



Observo perplexo esses acontecimentos, mas vejo que tudo isso é fruto da continuidade de um governo que empolga e se elege, mas que há muito considera secundária a tarefa de fazer o que deve ser feito, controlar o que deve ser controlado, governar o que deve ser governado e administrar o que deve ser administrado. Afinal, hoje se pratica de forma ampla e irrestrita o que o Líder Supremo, sombra onipresente da atual presidência, sempre vociferou em sua fase irada de sindicalista.


Os movimentos grevistas, cujo discurso defensor sempre fala desse suposto intocável direito dos trabalhadores, não estão nem aí com o direito ao trabalho de milhões, ou o de ir e vir garantido na constituição; ou com o direito constitucional (e Bíblico) de propriedade; ou ainda com a preservação do bem público. Esses movimentos estão lançando no espaço a já inexistente ética brasileira.

E as autoridades? Ah, as nossas autoridades – quão pitorescas e fora de foco! Inicialmente afirmam que está tudo normal, ou "em negociação". Fecham os olhos quando ruas são trancadas; chegam atrasadas quando ônibus são queimados. A televisão e seus helicópteros conseguem chegar aos locais de baderna em alguns minutos - mas a restauração da ordem é retardada até que nada mais há para ser destruído. E a punição de culpados? Essa já devemos apagar de nossas expectativas: não há punição e a repressão à violência é vista como um mal social e não como uma restrição benéfica aos cidadãos de bem. 

Negar evidências e e impedir a imposição de limites, parecem ser a postura institucional recomendada, ultimamente. A transferência de culpa, quando ela é remotamente admitida, é a tônica da vez; isso quando não se alega ignorância do que não pode ser ignorado - como fez o prefeito de São Paulo (seguindo o Mestre), nas últimas greves de ônibus que igualmente assolaram esta capital e a vida das pessoas que nela habitam. E depois do caos instalado - ninguém apresenta solução. Caem no vácuo as determinações judiciais, às vezes emanadas de uma corajosa juíza, que ainda encontra forças para protestar contra o desprezo pela lei, na nossa terra.

Nesse meio tempo, as reuniões cordiais se sucedem em Brasília, certamente regadas a bastante cafezinho, sucos e salgadinhos, com líderes de outros promotores do caos institucionalizado, como com o MST (terra, ou teto - à escolha dos incomodados), implorando para que não perturbem festividades que interessam ao governo.

Como lidar com o caos? Os nossos líderes deveriam estudar um pouco a história, verificando o que outros mais lúcidos fizeram em situações semelhantes. Se tivessem ânimo à pesquisa e à leitura, nem precisariam retroagir tão longe assim, para extrair algumas lições.

Em 1981, mais precisamente no início do mês de agosto, os controladores de vôo dos Estados Unidos começaram uma greve gigante no país. O sindicato deles (PATCO) agregava mais de 17 mil associados e desses, 13 mil paralisaram suas atividades exigindo melhores salários, apesar da atividade ter uma remuneração substancialmente acima da média. Interromperam, assim, negociações que já se estendiam por seis meses, nas quais haviam obtido várias vantagens e aumentos. Desde 1955 que greves em atividades essenciais eram proibidas por lei, nos Estados Unidos, no entanto mais de 22 paralisações ilegais haviam ocorrido nos anos recentes em diversas atividades similares. O que fez o presidente Ronald Reagan? Foi tirar férias na Flórida? Jogou a culpa no Ministro da Aeronáutica? Disse que “não sabia” que a situação era tão grave assim? Não! Vejam as lições, em como lidar com o caos, evidentes em algumas das medidas e decisões tomadas:
  • Primeiro, com precaução e planos emergenciais: Durante as negociações – nos seis meses anteriores, a FAA (Federal Aviation Administration) arquitetou um plano de emergência que previa a possibilidade de paralisação: 3000 supervisores, junto com os que não aderiram a greve colocaram a “mão na massa”, passando a controlar o tráfego aéreo; 900 militares da aeronáutica se uniram a eles. Essas pessoas não se furtaram, na emergência, a trabalhar 60 horas por semana – o dobro do que atualmente trabalham os nossos controladores. Para surpresa de todos, principalmente dos grevistas, o plano funcionou tranquilamente. Que contraste com a ignorância das nossas autoridades, que "não sabiam" o estado real desse segmento, quando, em 2006, tivemos greve semelhante.
  • Segundo, com coragem e objetividade: Reagan deu 48 horas para que eles retornassem ao trabalho sob pena de serem sumariamente demitidos. Obviamente não faltaram os profetas da catástrofe que aventavam desastres enormes, que não ocorreram, com a suposta “falta de segurança” presente no plano e nas ações do governo. Que contraste com a condescendência do nosso governo para com os perturbadores da ordem.
  • Terceiro, com ações de porte e eficácia: Grande parte dos grevistas achou que o governo blefava, não voltou ao trabalho e foi para a rua da amargura. Os cursos que preparavam controladores de voo, que formavam 1.500 a cada 21 semanas, aumentaram as classes, a capacidade e encurtaram o período para 17 semanas, passando a formar 5.500 controladores, no período. Dentro de poucas semanas a “fila” de candidatos a essas vagas chegou a 45.000 pessoas. Que contraste com o pronunciamento do nosso Ministro da Defesa, quando, em 2006, informou que contrataria 60 pessoas adicionais. E com os nossos dias, onde o despreparo das autoridades aflora a todos os olhos.
  • Quarto, com a aplicação rápida da lei: Os líderes do movimento foram presos por incitar e promover uma greve ilegal e processados em toda a extensão da lei. O sindicato foi multado em um milhão de dólares por dia de greve. O apoio popular foi todo para o governo, em vez de para os grevistas. Em 1984 o tráfego aéreo havia aumentado 20% e era eficientemente controlado por uma força de trabalho que era 80% daquela existente antes da greve de 1981. Que contraste com a impunidade que reina em nossa terra.
É desnecessário frisar que a forma como Reagan lidou com esse incidente restabeleceu o respeito ao governo, que vinha tratando a quebra da lei e da ordem de forma displicente, em administrações anteriores, e deu o tom aos anos que se seguiriam. Qualquer semelhança com o tratamento que as nossas autoridades vêm dando às greves no Pindorama é inexistente. Estamos realmente falidos na administração das questões públicas que afetam o dia-a-dia de grandes segmentos da população. Enquanto o governo se ocupa de tudo que é trivial, se esquece daquilo que é essencial. Daí a necessidade de estarmos alertas exercitando nossa cidadania na fiscalização de quem está la e na lembrança de caminhos viáveis aos impasses sociais. Podemos estar desanimados e tristes, sim; mas não desfalecidos! E não percamos a esperança de que Deus pode operar um milagre no nosso amado país, às vezes agindo até pelo privilégio do voto.

Solano Portela

Os interessados no incidente relatado acima, ocorrido em 1981, podem obter mais detalhes clicando aqui.
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quarta-feira, junho 04, 2014

Augustus Nicodemus Lopes

O uso da Psicanálise no Aconselhamento Pastoral

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Cresce o número de pastores que buscam formação na área de psicanálise. Qual o problema do chamado "evangelho terapêutico"? Será que Deus quer mesmo que eu seja sempre feliz, sem condições ou restrições? E o que dizer da chamada "autoestima"? Estes e outros pontos afins são discutidos no programa Academia em Debate desta semana. Assista aqui.



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terça-feira, junho 03, 2014

Augustus Nicodemus Lopes

Perseguidos por causa de Cristo?

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Os cristãos foram perseguidos pelos incrédulos e zombadores desde o primeiro momento em que começaram a dizer ao povo de sua época que Jesus de Nazaré, que havia sido rejeitado e morto pelos judeus, era, na verdade, o Filho de Deus. Sua morte na cruz era o único meio pelo qual Deus estava disposto a perdoar os pecados e conceder a vida eterna, tanto a judeus quanto a não-judeus. Basta uma leitura, ainda que rápida, pelo livro dos Atos dos Apóstolos e este fato ficará claro: a mensagem da cruz anunciada pelos primeiros cristãos, embora aceita por milhares na época, provocava reações violentas tanto em judeus quanto gregos. Para os primeiros, era escândalo, para os últimos, loucura (1Co 1:23).

Era de se esperar que os cristãos, perseguidos e odiados, caluniados e objeto de escárnio e zombaria, se sentissem tentados a reagir, retrucar, e a desenvolver um espirito de vitimização. Ou seja, a sentir pena deles mesmos e cultivar um espírito de justiça própria por estarem sendo alvo de perseguição da parte do mundo. Todavia, os apóstolos, os primeiros líderes e pastores daquela geração, logo perceberam o perigo de que a perseguição empurrasse os discípulos para uma atitude de reação ou vitimização. Assim, orientaram-nos a encarar a zombaria, a calúnia, a perseguição, a prisão e mesmo o martírio da forma correta, tendo sempre a Jesus Cristo como exemplo de mansidão e amor pelos inimigos.

Uma coisa em particular preocupava os apóstolos: a causa da perseguição. Era fácil um cristão pensar que toda e qualquer zombaria que ele sofresse era pelo fato dele ser crente em Jesus Cristo. Todavia, nem toda perseguição que os cristãos sofriam era por causa da cruz, por causa de Cristo, por causa da verdade.

O apóstolo Pedro exortou os cristãos a terem vida exemplar no meio do povo, para que ficasse claro que as coisas ruins que falavam contra eles não tinham fundamento (1Pe 2.11-12). Se eles tivessem que sofrer, que fosse porque faziam o bem e não o mal: que glória havia em ser esbofeteado por ter feito o mal? (1Pe 2.20-21). Eles seriam bem-aventurados se fossem esbofeteados por praticarem a justiça de Deus (1Pe 3.13-14). Pedro diz ainda: “se for da vontade de Deus, é melhor que sofrais por praticardes o que é bom do que praticando o mal” (1Pe 3.17). E acrescenta:

“Se, pelo nome de Cristo, sois injuriados, bem- aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória e de Deus. Não sofra, porém, nenhum de vós como assassino, ou ladrão, ou malfeitor, ou como quem se intromete em negócios de outrem; mas, se sofrer como cristão, não se envergonhe disso; antes, glorifique a Deus com esse nome” (1Pe 4.15-16).

Nem toda zombaria e deboche que um cristão recebe dos incrédulos é por causa de sua fidelidade a Cristo. Se alguém que se diz cristão for desonesto, avarento, mentiroso, preguiçoso, imoral ou hipócrita, e vier a sofrer as consequências destes atos, este sofrimento não é por Cristo. Ele não está sofrendo por ser cristão, mas por ser estas coisas. Como qualquer outra pessoa.

O apóstolo Paulo disse na sua primeira carta aos cristãos da cidade de Corinto que a mensagem da cruz é loucura para os incrédulos (1Co 1.18). Eles simplesmente não a entendem, se sentem ofendidos pela ideia da salvação mediante alguém que foi crucificado e acham ridícula a ideia de que o crucificado tenha depois ressuscitado de entre os mortos. E, naturalmente, zombam e perseguem quem crê e ensina isto. Mas, na mesma carta, Paulo ensina aos crentes de Corinto a que tomem cuidado para não dar aos incrédulos outro motivo, além da cruz, para os chamarem de loucos. Ele orienta, por exemplo, os irmãos a evitar falarem todos em línguas ao mesmo tempo e sem interpretação nos cultos públicos: “Se, pois, toda a igreja se reunir no mesmo lugar, e todos se puserem a falar em outras línguas, no caso de entrarem indoutos ou incrédulos, não dirão, porventura, que estais loucos?” (1Co 14.23). Que nos chamem de loucos por causa da mensagem da cruz, mas não pela falta de sabedoria.

Infelizmente, muito do deboche e perseguição que os evangélicos experimentam hoje em nosso país não é por causa da pregação vigorosa, firme e clara da cruz de Cristo. Aliás, pouco se ouve dela, em meio aos decretos de prosperidade, promessas de vitória e pedidos de dinheiro. O que provoca a zombaria são práticas e costumes estranhos em nome do Espírito Santo, escândalos, ostentações de riquezas e busca descarada do dinheiro dos incautos em nome de Deus, e o engajamento infeliz de segmentos evangélicos numa guerra contra aqueles que deveriam ser objeto de nossa pregação sobre a cruz e não da nossa ira. Nem sempre os evangélicos sofrem no Brasil por serem cristãos sérios, firmes, verdadeiros e fiéis a Deus.

Até hoje a mídia secular não consegue ser justa e fazer a distinção entre evangélicos e evangélicos. Acaba sobrando para todos os que se identificam como crentes em Jesus Cristo. O caminho, me parece, não é rejeitar o título de “evangélico,” mas viver e pregar de tal forma que o único motivo da zombaria que nos sobrevier seja Cristo, e este crucificado.

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